Diário de bordo Festival La Onda 2011 – Vespasiano

Por Luiz Ramos

Sexta feira, 16 de dezembro de 2011.

O que deveria ser o primeiro dia de shows do La Onda, foi, na verdade, o dia do caos na cidade. Por causa das fortes e ininterruptas chuvas na região, o rio que corta Vespasiano transbordou alagando todo o centro da cidade.

Pessoas perderam suas casas, seus bens. E depois de muito diálogo com o poder público, foi decido que o bom senso er cancelar a programação musical do dia. Não havia clima para festa, tampouco tínhamos cabeça para tocar o evento.

Apesar disso, mantivemos a oficina de Midialivrismo para reforçar o laço que contruímos com a Escola Estadual Machado de Assis, de onde saíram quase todos os oficineiros.

Sábado, 17 de dezembro de 2011

Sábado chega com um tempo mais estável, firme, e com alguns relances de céu azul. Já havíamos nos comprometido em realizar os shows e só cancelaríamos se as mesmas condições da sexta se repetissem. Era hora de reeguer a auto estima da cidade e levar alegria ao centro castigado pela enchente no dia anterior.

Os shows começaram com a banda belorizontina Valsa Binária que fez o que, na minha opinião, foi o melhor show da banda no ano. Arranjos bem executados, com firmeza e uma pegada que eu nunca tinha visto na banda antes. Apesar do público ainda disperso pela praça, certamente agradaram o público.

Valsa Binária fez um dos seus melhores shows do ano durante o La Onda

Logo em seguida veio a atração local Nu Theory. Um power trio que mistura nu metal e thrash metal, fazendo a alegria dos camisas pretas presentes. Os fãs do som extremo eram maioria até aquele momento e várias rodas se abriam ao longo do show. A banda já tinha tocado no La Onda de 2010, e vi bastante evolução na performance da galera. Porém, uma crítica que sempre faço deve ser feita novamente: o baterista se apresentou com pratos completamente fora de condições de uso. Totalmente rachados, empenados, sem som… Um pequeno investimento em pratos nacionais (que estão com um ótimo nível) acrescenta muito ao som da banda.

DJ Dante animava os intervalos com uma discotecagem de alto nível. Eclético como a programação do festival, Dante conseguiu manter o clima da festa em alta e venceu um possível desâmino pela chuva que ia e vinha teimosa. O público dançava pela praça, como que celebrando uma noite que se anunciava ser o oposto da noite passada: de diversão.

A terceira banda da noite iniciou a parte dançante do dia do festival. O Black Sonora, com todos os seus anos de experiência em palcos por todo o país, veio com um disco fresquinho debaixo do braço e fez um show contagiante. Nada como um disco sendo lançado para dar um gás a mais no show.

Não que o Black Sonora seja uma banda que precise de um gás a mais, mas era visível nos rostos dos músicos a alegria de se estar ali. O show contagiou o público presente, que se mostrava um pouco frio até então em relação às bandas.

Tiago Beats fez uma excelente performance

Slim Rimografia e Thiago Beats vieram logo após. Para quem conhece a dupla, não é de se admirar a competência e a simpatia dos caras. Mas ontem Thiago Beats deu um show a parte. Já havia visto outros 3 shows dos caras anteriormente, mas neste, do La Onda 2011, o mestre dos beatbox estava ensandecido. Foram 3 ou 4 interveções que explodiram a mente dos presentes e a minha. Slim, sempre simpático, manteve a vibe alta.

A noite se encerrou com uma lenda viva do reggae nacional. Ras Bernardo, acompanhado pela banda QG Imperial, mostrou as músicas do novo álbum e trouxe a Jamaica e o espírito de Jah à praça JK. O pequeno público presente viajava pelas melodias ora psicodélicas, ora objetivas, ora enfumaçadas…

A chuva caía mais forte mas Ras e o QG a celebravam como parte do show. E realmente foi. A galera que ficou pra ver o show dançava a paz e a comunhão homem-natureza.

Uma lenda viva do reggae, Ras Bernardo deu show no La Onda

E a primeira noite de shows noite encerrou-se assim: positiva. E a única enchente que se viu, foi a causada pela onda cultural que o festival La Onda e o coletivo Vatos dão a Vespasiano.

Domingo, 18 de dezembro de 2011.

O dia começou com a perspectiva da correria que seria dar conta de 7 bandas. Duas delas, A Nuvem e Transmissor, foram remanejadas para o domingo, para que assim pudéssemos contemplar o máximo de bandas de sexta quanto fosse possível.

O show d’A Nuvem estava marcado para as 16h. Porém, um atraso monstro na montagem do som – que teve de ser trocado por exigência da produção do Vander Lee, que não estava satisfeita com a mesa de som do sábado – fez com que tudo se atrasasse. Aliás, Vander Lee deu um show a parte, como contarei mais à frente.

As passagens de som do dia começaram às 17h. Transmissor e Vander Lee fizeram suas passagens, principalmente porque TC, baixista do Transmissor, também toca na formação power trio do cantor e isso, teoricamente, facilitaria tudo. Infelizmente tivemos de cancelar a passagem do Julgamento. O atraso ainda nos obrigou a reduzir o tempo de todas as bandas para 25 minutos para as 3 primeiras bandas, 35 minutos para outras 3 e 40 para Vander Lee. Como vocês podem ver, tivemos muito cuidado com o grande artista da noite.

Os shows começaram às 19h30. Tínhamos 5 horas e meia para entregar 7 shows a Vespasiano. Nossa previsão era de que daria tudo certo se déssemos o máximo de cada um nas funções. As trocas de palco foram feitas com o máximo de velocidade possível e eu intercalava essa função com a de mestre de cerimônias.

4 Instrumental é um dos grandes nomes da música em Minas

Os sabarenses do 4Instrumental, os quais tenho o prazer de conhecer pessoalmente, chegaram à cidade vindo direto da Argentina, onde fizeram uma turnê. A banda, que já era a minha favorita dentre as independentes do Brasil, parece não parar de evoluir. O resultado de vários shows ao longo do ano e de vários dias na estrada apareceu neste show. Apesar de pequeno, foi impecável. Não é preciso dizer mais do que isso. A cada dia mais e mais pessoas passam a seguir a banda e, shows como este, mostram que a ascenção está cada vez mais notável.

A nota triste é que foi o último show do baixista Paulão, que vai para São Paulo estudar música. Não tenho dúvidas de que será um dos maiores baixistas do Brasil. Já sei quem será o novo baixista e estou bastante ansioso pelo resultado!

Transmissor sobe ao palco já com o jogo ganho Mas não por ter ali uma multidão de fãs esperando ansiosos. Quem conhece a banda sabe da qualidade de seus músicos e das composições cheias de nuances que ganham ainda mais força ao vivo. A banda tocou pela primeira vez em Vespasiano e aproveitou para divulgar seu mais novo álbum, o Nacional. Certamente formou público na cidade e já pode retornar com a certeza de que fãs os aguardarão ansiosos.

O penúltimo artista da noite de domingo foi o Vander Lee. A apresentação do músico que venceu na vida, saindo dos botecos de BH para os grandes palcos do país estava cercada de dúvidas por parte da população. Pelo que soube, é normal aparecerem boatos de grandes shows em Vespasiano, os quais são desmentidos tão rápido quanto se espalham, gerando nos vespasianenses uma desconfiança natural de quem cansou de cair nessas histórias. Mas dessa vez era verdade. Vander Lee estava na cidade e se apresentaria. Mesmo assim, boatos circulavam e não raro chegavam pessoas perguntando a integrantes da produção sobre a veracidade da informação.

Quando o cara subiu ao palco, sentia-se o frisson no ar. Músico já consagrado em Minas Gerais, suas músicas, que retratam o cotidiano do homem comum e apaixonado, conquista facilmente homens, mulheres e crianças. A formação intimista em power trio, o coloca, e a seus arranjos, ainda mais como centro das atenções. O público cantava junto e a chuva que caía não esfriava os ânimos. Mas o “show à parte” que eu falei, vem a seguir.

Porém, o que deveria ser um show tranquilo, virou um pesadelo. O cara simplesmente não saía do palco. Estourado em quase meia hora, o show de Vander Lee ia se estendendo e nem os pedidos por parte da produção surtiam efeito. Como última medida, fui à housemix solicitar que, caso mais uma música fosse executada, cortassem o som. Não foi necessário.

Mas, infelizmente, naquela altura Vander Lee já havia prejudicado em muito a última banda da noite, Julgamento. Não somente isso. Deu trabalho à produção depois de voltar atrás na decisão de que iria atender os fãs no backstage. Coincidência ou não, foi necessário uma fã mais exaltada, aos berros para que ele a ouvisse de dentro do camarim, começasse a lembrá-lo de seu passado humilde nos botecos de Belo Horizonte. Rapidamente o acesso foi liberado novamente.

O público desconfiou da apresentação de Vander Lee, mas dessa vez ela aconteceu

O show de Vander Lee agradou o público. Mas, para este resenhista, isso não adianta de nada quando se mostra sem consideração pelos seus companheiros de classe musical e pelos festivais independentes. Vander Lee, somos independentes sim. E você é bem vindo à nossa plataforma de festivais, desde que faça dele uma festa coletiva da música e dos músicos, independente do ponto onde as diversas atrações do festival estão em suas carreiras.

Depois de todo o stress causado pelo Vander Lee, era a hora do show de encerramento do festival. Julgamento, uma das melhores bandas de Belo Horizonte da atualidade (e – por que não já dizer? – da história), sobem ao palco depois de muita conversa de bastidores sobre a realização ou não do show. Estava tarde, o público começava a ir embora, não haviam passado o som devido à demora da montagem do palco já citada anteriormente…

Pelo bem de todos e grande sorte dos que ficaram para vê-los, a banda não só fez um belo show como fez um dos melhores shows que já vi da banda. Os Mc’s Roger Deff, Ricardo HD e Voz Khumalo despejavam seus versos enérgicos e com emoção. A banda tocava forte e os scratches pareciam possuídos por uma aura densa que só senti nesse dia.

Na chuva, cuidando da entrada do backstage, cantava o que sabia das letras desses 8 caras que deram uma grande prova de amor ao trabalho que fazerm. A chuva e o pouco público não esmoreceram a banda. Pelo contrário. Tocaram alto, para que toda a cidade ouvisse e sentisse o puro peso da marreta do H2.

Julgamento subiu ao palco mesmo com todos os atrasos e fez um ótimo show

Encerrado o show e o festival, o cansaço não abatia ninguém. Aquela sensação de dever cumprido, mesmo com os percalços do caminho, nos confortou a todos. As pernas, as costas, a cabeça… nada doía. Isso não era nada perto da satisfação do dever cumprido, da superação das dificuldades como falta de grana ou uma equipe reduzida.

Sobre a equipe, cumprimento um por um dos que tramparam ao meu lado e confiaram e apoiaram uns aos outros ao longo desses dias: Fred, Marcelo, Zalivi, Dante, Lili e Leandro, valeu demais, camaradas. Parabéns pra vocês pelo sangue no olho e pela dedicação. O Vatos sai desse La Onda muito mais forte e consicente de seu papel.

Obrigado especial a seu Raul e dona Maria pelo acolhimento em sua casa. Foi legal secar o Santos, comer da tadicional pizza Rosarina, conversar sobre política e invejar (no bom sentido) a sabedoria de vocês.

Esse ano tem mais La Onda e muito mais vindo do Vatos.

Tamo junto, galera.

#ehnóis

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